quarta-feira, 18 de junho de 2008

A Revolução Digital

Texto e papel. Parceiros de uma história de êxitos. Pareciam feitos um para o outro.
Disse "pareciam", assim, com o verbo no passado, e já me explico: estão em processo de separação.
Secular, a união não ruirá do dia para a noite. Mas o divórcio virá, certo como o pôr-do-sol a cada fim de tarde.
O texto mantinha com o papel uma relação de dependência. A perpetuação da escrita parecia condicionada à produção de celulose.
Súbito, a palavra descobriu um novo meio de propagação: o cristal líquido. Saem as árvores. Entram as nuvens de elétrons.
A mudança conduz a veredas ainda inexploradas. De concreto há apenas a impressão de que, longe de enfraquecer, a ebulição digital tonifica a escrita.
E isso é bom. Quando nos chega por um ouvido, a palavra costuma sair por outro. Vazando-nos pelos olhos, o texto inunda de imagens a alma.
Em outras palavras: falada, a palavra perde-se nos desvãos da memória; impressa, desperta o cérebro, produzindo uma circulação de idéias que gera novos textos.
A Internet é, por assim dizer, um livro interativo. Plugados à rede, somos autores e leitores. Podemos visitar as páginas de um clássico da literatura. Ou simplesmente arriscar textos próprios.
Otto Lara Resende costumava dizer que as pessoas haviam perdido o gosto pela troca de correspondências. Antes de morrer, brindou-me com dois telefonemas. Em um deles, prometeu: "Mando-te uma carta qualquer dia desses."
Não sei se teve tempo de render-se ao computador. Creio que não. Mas, vivo, Otto estaria surpreso com a popularização crescente do correio eletrônico.
O papel começa a experimentar o mesmo martírio imposto à pedra quando da descoberta do papiro. A era digital está revolucionando o uso do texto. Estamos virando uma página. Ou, por outra, estamos pressionandoa tecla "enter".

(SOUSA, Josias de. A revolução digital. Folha de São Paulo)

6 comentários:

Anônimo disse...

Muto boa a relação que o autor faz com o uso de textos.E dizem por aí que a internet não nos faz ler. E então, estamos nós, aqui, diante de tantos textos e usando a tecnologia a nosso favor.
Parabéns, Graça.

Anônimo disse...

A grande revolução que o computador promove é permitir uma educação massificada no sentido de que há muita informação disponível e ao mesmo tempo individualizada. Com o passar dos anos o que vai acontecer é que o ensino não vai mais se reduzir ao livro didático. Os livros estarão melhores e adequados à informática, até mesmo com sugestões de sites e atividades.

Anônimo disse...

O papel pode de uma certa forma está perdendo força, mas a palavra, escrita ou digitada, nunca será substituída. Acredito que a internet veio para avançar esse aspecto e, cabe a nós professores, não deixar que isso aconteça. Um abraço.

Robson Freire disse...

Olá Cursistas

Que texto espetacular!!!

As relações entre as fases da evolução da escrita e seus meios de divulgação estão maravilhosamente descritas no texto.

As possibilidades que a internet nos fornece, o texto reafirma que a palavra, seja ela escrita ou falada, nunca perdera o seu lugar de importância dentro da sociedade.

Estamos realmente entrando numa nova era, e os professores que não se repensarem sofreram o que a pedra sofreu quando o papiro apareceu: vai ficar fora de uso.

Abraços

Unknown disse...

Gostei imensamente do texto achei as comparaçoes feitas pelo autor muito interessantes só que a leitura e a escrita nunca ficarão fora de uso, pois para interagirmos nesse blog estamos lendo e escrevendo, só que, de uma forma mais bonita, mais limpa sem rasgar tantas folhas ou riscar tanto papel apagamos e reescrevemos com delicadeza e limpesa.
Viva os novos tempos, a revolução digital, é bem emlhor assim, não há mais escritos indecifráveis.

Um abraço
Maria Aparecida Vargas

Ludovina disse...

Educar é acima de tudo evoluir. cabe ao professor participar dessa evolução para usá-la em favor da educação.