quinta-feira, 19 de junho de 2008

Desafios da Internet para o professor

José Manuel Moran
Com a chegada da Internet nos defrontamos com novas possibilidades, desafios e incertezas o processo de ensino-aprendizagem.
Não podemos esperar das redes eletrônicas a solução mágica para modificar profundamente a relação pedagógica, mas vão facilitar como nunca antes a pesquisa individual e grupal, o intercâmbio de professores com professores, de alunos com alunos, de professores com alunos.
A Internet propicia a troca de experiências, de dúvidas, de materiais, as trocas pessoais, tanto de quem está perto como longe geograficamente.
A Internet pode ajudar o professor a preparar melhor a sua aula, a ampliar as formas de lecionar, a modificar o processo de avaliação e de comunicação com o aluno e com os seus colegas.
O professor vai ampliar a forma de preparar a sua aula. Pode ter acesso aos últimos artigos publicados, às notícias mais recentes sobre o tema que vai tratar, pode pedir ajuda a outros colegas - conhecidos e desconhecidos - sobre a melhor maneira de trabalhar aquele assunto com os seus estudantes. Pode ver que materiais -programas, vídeos, exercícios existem. Já é possível copiar imagens, sons, trechos de vídeos. Em pouco tempo o acesso a materiais audiovisuais será muito mais fácil. Tem tanto material disponível, que imediatamente vai aparecer se o professor está atualizado, se preparou realmente a aula (porque os alunos também têm acesso às mesmas informações, bancos de dados, etc).
O grande avanço neste campo da preparação de aula está na possibilidade de consulta a colegas conhecidos e desconhecidos, a especialistas, de perguntar e obter respostas sobre dúvidas, métodos, materiais, estratégias de ensino-aprendizagem. O papel do professor não é o de somente coletar a informação, mas de trabalhá-la, de escolhê-la, confrontando visões, metodologias e resultados.
O professor pode iniciar um assunto em sala de aula sensibilizando, criando impacto, chamando a atenção para novos dados, novos desafios.Depois, convida os alunos a fazerem suas próprias pesquisas, -individualmente e em grupo- e que procurem chegar a suas próprias sínteses. Enquanto os alunos fazem pesquisa, o professor pode ser localizado eletronicamente, para consultas, dúvidas. O professor se transforma num assessor próximo do aluno, mesmo quando não está fisicamente presente. Não interessa se o professor está na escola, em casa, ou viajando. O importante é que ele pode conectar-se com os outros e pode ser localizado, se quiser, em qualquer lugar e em qualquer momento. A aula se converte num espaço real de interação, de troca de resultados, de comparação de fontes, de enriquecimento de perspectivas, de discussão das contradições, de adaptação dos dados à realidade dos alunos. O professor não é o "informador", mas o coordenador do processo de ensino-aprendizagem. Estimula, acompanha a pesquisa, debate os resultados.
Os alunos podem fazer suas pesquisas antes da aula, preparar apresentações -individualmente e em grupo. Podem consultar colegas conhecidos ou desconhecidos, da mesma ou de outras escolas, da mesma cidade, país ou de outro país. Aumentará incrivelmente a interação com outros colegas, pesquisando os mesmos assuntos, trocando resultados, materiais, jornais, vídeos.
A motivação para a prática de línguas estrangeiras e para o aperfeiçoamento da própria se torna muito mais perceptível, porque existe real necessidade de escrever e, nos próximos anos, também de falar na mesma e em outras línguas.
Os programas de tradução nos facilitarão a comunicação com outros países, mas quem domina a língua levará muita vantagem neste intercâmbio.
A Internet será ótima para professores inquietos, atentos a novidades, que desejam atualizar-se, comunicar-se mais. Mas ela será um tormento para o professor que se acostumou a dar aula sempre da mesma forma, que fala o tempo todo na aula, que impõe um único tipo de avaliação. Esse professor provavelmente achará a Internet muito complicada - há demasiada informação disponível - ou, talvez pior, irá procurar roteiros de aula prontos -e já existem muitos - e os copiará literalmente, para aplicá-los mecanicamente na sala de aula.
Esse tipo de professor continuará limitado antes e depois da Internet, só que a sua defasagem se tornará mais perceptível. Quanto mais informação temos disponível, mais complicamos o processo de ensino-aprendizagem.
Quando podíamos escolher um único livro de texto e segui-lo capítulo a capítulo, estava claro o caminho do começo até o fim, tanto para o professor, como para o aluno, para a administração e para a família.
Agora podemos enriquecer extraordinariamente o processo, mas, ao mesmo tempo, o complicamos. Ensinar é orientar, estimular, relacionar, mais que informar. Mas só orienta aquele que conhece, que tem uma boa base teórica e que sabe comunicar-se. O professor vai ter que atualizar-se sem parar, vai precisar abrir-se para as informações que o aluno vai trazer, aprender com o aluno, interagir com ele.
A Internet não é mágica, mas as experiências que venho acompanhando na Universidade de São Paulo e o contato com professores e alunos que utilizam as redes eletrônicas no Brasil e em outros países me mostram possibilidades fascinantes de tornar o ensino e a aprendizagem processos abertos, flexíveis, inovadores, contínuos, que exigem uma excelente formação teórica e comunicacional, para navegar entre tantas e tão desencontradas idéias, visões, teorias, caminhos.
Os alunos estão prontos para a Internet. Quando podem acessá-la, vão longe. O professor vai percebendo que, aos poucos, a Internet está passando de uma palavra da moda a realidade em alguns colégios e nas suas famílias. Nestes próximos anos viveremos a interligação da Internet, com o cabo, com a televisão. Imagem, som, texto e dados se integrarão em um vasto conjunto de possibilidades. Ver-se e ouvir-se à distância se tornará corriqueiro. Pedir a um colega que dê aula comigo, mesmo que esteja em outra cidade ou país, ao vivo, será plenamente viável. As possibilidades da Internet no ensino estão apenas começando.
http://www.eca.usp.br/prof/moran/desaf_int.htm

Postado por Rosângela Hipolito

9 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito desse texto, pois diz de uma forma clara todos os aspectos interessantes e necessários para uma interação maior entre o aluno e o professor, utilizando a tecnologia e as informações, em tempo real, do mundo. Um abraço.

Robson Freire disse...

Olá cursistas

O José Manuel Moran é um dos referenciais nas novas tecnologias a serviço da educação.

No texto ele prega e reafirma tudo aquilo que estamos discutindo em nosso curso: Não há novas tecnologias com velha pratica pedagógica.

A internet chegou para ajudar, para revolucionar as relações de trabalho, pessoal e educacional mas se você souber usa-la, senão ela não ira ajudar em nada.

Capacitação, troca de experiencias, suporte pedagógico e tecnológico dentro de uma nova pratica pedagógica fara toda a diferença.

Parabéns a Rosângela pelo belo texto com que ela nos brindou.

Abraços

Anônimo disse...

Realmente aquele professor que não se atualizar, com certeza irá evaporar, pois com as inúmeras possibilidades que surgem, o processo ensino-aprendizagem ficará cada vez mais complicado e dificilmente ele sobreviverá nesse novo mundo que emerge com tanta rapidez.

Graça Rezende disse...

“A Internet pode ajudar o professor a preparar melhor a sua aula, a ampliar as formas de lecionar, a modificar o processo de avaliação e de comunicação com o aluno e com os seus colegas”. Diante dos desafios não podemos esquecer jamais que sem comunicação a vida em sociedade não seria possível!Melhorar a comunicação entre professor-aluno... este é o ponto central,vamos juntos buscar os caminhos!!!!

Graça.

Marília de Fátima Machado Rodrigues disse...

É realmente, a internet veio com desafios, incertezas e hoje, traz todas as possibilidades de informações, integração, comunicação para “descomplicarmos” o processo ensino-aprendizagem.
Cabe a cada um de nós, buscarmos uma interação para que realmente possamos tornar o ensino e a aprendizagem processo aberto, flexível, inovador, contínuo.
Ainda vejo como uma “mágica’, que ainda não consegui desvendar seus segredos, seus mistérios, mas tento buscar, às vezes, confesso, até com boa dose de receio, de medo.
Juntos, conseguiremos...
Abraços

Anônimo disse...
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Unknown disse...

O texto "Desafios da Internet para o professor" mostra com clareza os desafios que todos temos que enfrentar e superar nos dias atuais, não dá mais para viver sem usar as ferramentas que as novas tecnologias nos oferecem. A quantidade de material disponível e as possibilidades de utilização são tão grandes que as vêzes nos confundem.
Muitos de nossos colegas ainda se sentem amedrontados com o uso dessas ferrementas, mas não há tempo para a dúvida, se titubearmos fracasseremos. Precisamos cada vez mais estudar e aperfeiçoar nossos conhecimentos, para assim enfrentarmos esse desafio que pode acrescentar muito na nossa prática pedagógica.

Um abraço nós conseguiremos.

Maria Aparecida.

Ilsete Rezende disse...

Realmente ficará difícil conseguir atenção de nossos alunos sem o uso das tecnologias. Precisamos planejar bem nossa aula, utilizando diversos recursos para alcançar nossos objetivos.

Vina disse...

A informação e o conhecimento não se encontram mais fechados no âmbito da escola, mas foram democratizados. A função do professor nesse novo contexto é orientar o aluno a saber o que fazer com tanta informação e como aplicá-la de forma inteligente e responsável. Esse é o desafio que se abre na educação e o professor é precisa estar preparando diante dessa nova pespectiva de aprendizagem.

Vina